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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Brás de Pina: da Princesinha da Leopoldina à Armação dos Búzios

A ilustração retrata o momento da caça da baleia em Búzios no séc. XVIII
Arte: Alan Camara


Até a construção da Avenida Brasil, na década de 1940, suas terras alcançavam a Baía de Guanabara e sua história cruza com a da cidade de Armação dos Búzios, no litoral fluminense. Ambos os lugares têm nome e povoamento relacionados ao Visconde de Brás de Pina, filho de nobres portugueses nascido no Brasil e um dos grandes empreendedores da capitania do Rio de Janeiro, na primeira metade do século XVIII.

As terras hoje ocupadas pelo bairro carioca eram de sua propriedade. Nelas, eram produzidos açúcar e aguardente, artigo bastante procurado pelos traficantes negreiros da cidade da época, por ser uma das principais moedas de troca por escravos, na África. Mas a principal atividade de Brás de Pina não era a de senhor de engenho e sim a de contratador de pesca da baleia. Ele foi a primeira pessoa da capitania a obter concessão para manufaturar os produtos oriundos do cetáceo, como o óleo, o espermacete e a barbatana, ampla e respectivamente utilizados na iluminação das ruas e das residências, na fabricação de velas e na confecção do vestuário feminino, entre outros usos.

Eram manufaturas produzidas nas armações que o visconde mantinha em Búzios, na região de Cabo Frio, e na área urbana do Rio, nas proximidades da Candelária, onde também construiu um porto para embarcação das mercadorias provenientes de seus negócios. O Cais de Brás de Pina era, em toda a cidade, o único feito de pedra. Provavelmente, por causa de sua localização e estrutura foi escolhido para se transformar no porto oficial de embarque do ouro vindo das Minas Gerais, motivo pelo qual passou a ser denominado de Cais dos Mineiros. Com isso, a armação localizada na área urbana do Rio acabou desativada, aumentando a importância da que havia em Búzios, até 1765, quando terminou sua concessão de contratador da pesca da baleia. Já o porto do visconde se tornou o principal do Rio de Janeiro por mais de um século e meio.


A fazenda de Brás de Pina ficava situada na maior e mais próspera freguesia rural do Rio, a de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá. Além do engenho e da residência, havia uma capela, a de Nossa Senhora da Conceição, citada em documento histórico como “das melhores do Recôncavo”, expressão usada pelos setecentistas para chamar as terras no entorno da Baía de Guanabara.

As ruínas do engenho ainda eram visíveis em meados do século XX. Em 1917, foram usadas como cenário do primeiro filme policial brasileiro, intitulado A quadrilha do esqueleto, segundo o jornal A Noite de 17 de fevereiro de 1940. Sob os grossos paredões de pedra das construções havia corredores subterrâneos. Ainda no século XVIII, o engenho de Brás de Pina foi adquirido por D. José Joaquim Justiniano Mascarenhas de Castelo Branco, que se tornou bispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro, durante o período colonial.

Com sua morte, a propriedade foi repassada para herdeiros. Em meados do século XIX, a antiga fazenda já estava dividida em grandes glebas pertencentes a várias famílias, entre elas os Gama, os Ene e os Lobo. Posteriormente, parte das terras de Brás de Pina e áreas circunvizinhas foi comprada pelos Guinle.

Com a inauguração, em 1886, da Estrada de Ferro do Norte (incorporada em 1898 pela Leopoldina Railway Company) – interligando São Francisco Xavier a Meriti –, o crescimento da região se acelerou e os bairros que integram a atual Zona da Leopoldina começaram a tomar forma. A Estação de Brás de Pina foi inaugurada em 1910 e, na década seguinte, a Cia. Imobiliária Kosmos, de propriedade dos Guinle, inaugurou a Vila Guanabara, inspirada no projeto inglês das cidades-jardins. Com ruas planejadas, casas em estilo colonial e muitas árvores, a estratégia de venda comparava o empreendimento à Vila Ipanema. O projeto ainda incluía um centro comercial ao lado da linha férrea e um espaço para a vida social: o Guanabara Tennis Clube, atual Brás de Pina Country Club. Em 1929, a Cia. ainda entregou aos moradores a Igreja de Santa Cecília. Não demorou muito para o novo bairro ficar conhecido como Princesinha da Leopoldina.

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