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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Intelectualidade Ignorante

"Há justiça em os alemães de hoje serem condenados por conta do Holocausto? Há justiça em os cristãos de hoje serem condenados por conta das cruzadas e da inquisição?"


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Por Marcos Sodré*
Algumas pessoas acreditam piamente que assumir uma posição comunista, ateísta ou de anti-religiosidade lhes atribui um “status” de intelectualidade que os coloca alguns graus acima dos simples mortais que, para elas, de maneira cega, iludida e ignorante acreditam, de alguma forma, nas instituições ou exercitam sua fé, acreditando na existência de um Deus invisível e frequentando templos religiosos, onde "são hipnotizados por seus líderes e obrigados a dar dízimos e ofertas, cujo destino é o conforto e o deleite destes líderes sem caráter e escrúpulos".

Essas mesmas pessoas se dizem sem preconceitos. Elas apenas "exercem seu direito, e mais, seu dever de trazer à luz aquilo que se encontra no submundo desses clãs religiosos". Afinal, eles são os iluminados, os filhos das luzes, frutos do iluminismo. 

Muitos deles já frequentaram os mesmos bancos da ignorância que hoje são ocupados por outros enganados. Mas isso não os condena. O tempo da ignorância não se pode levar em conta.

O estudo da História é muito revelador. Nele nós podemos constatar a forma “bárbara” com que os nativos das Américas foram dizimados, como os negros africanos foram subjugados e desumanizados, a forma cruel como os nazistas planejaram e executaram o holocausto e como, de forma não menos cruel, cristãos perseguiram e mataram aqueles que ousaram opor-se às suas crenças e dogmas. No entanto, décadas e séculos se passaram desde que tudo isso aconteceu, apesar de saber que, em determinados lugares, tais atos permaneçam sendo praticados por uma minoria, aí sim, ignorante e que deve ser denunciada.

O que me move a escrever este texto é perceber que estes intelectuais acabam “pecando” num anacronismo e num julgamento de valor que vai de contra às suas teses de pluralidade, tolerância e anti-preconceito. Ora, há justiça em um branco ser condenado, hoje, pelo fato de os brancos do passado terem escravizado os negros africanos? Há justiça em os alemães de hoje serem condenados por conta do Holocausto? Há justiça em os cristãos de hoje serem condenados por conta das cruzadas e da inquisição? Há justiça em os governantes de hoje serem julgados por conta da Ditadura?

Queridos, nem todo branco é preconceituoso, nem todo negro é (pai de) santo, nem todo político é ladrão, nem todo eleitor é honesto, nem todo pastor/padre/babalorixá/rabino é safado, nem todo sábio é conhecedor da verdade. Aliás, os intelectuais sabem bem da vulnerabilidade desta palavra: “VERDADE”.

Cada um vive a sua verdade. A verdade daquilo que escolheu acreditar, seja por meio de métodos científicos, seja pelos métodos inexplicáveis da fé. Talvez até nisso estes poucos intelectuais estejam pecando, uma vez que dos diversos significados atribuídos à palavra “intelectual” está: “que ou quem tem gosto predominante pelas coisas do espírito”.


*Marcos Sodré é professor de História

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