A monarquia cabofriense

Essa distorção e esse retrocesso político que se instala em Cabo frio é fruto da rejeição ao modelo anterior aplicado pelo ex-prefeito Marquinhos Mendes

Depois do 'poder', o que político mais gosta de fazer é filho para se tornar político. Alguns fazem em série somente para reserva, caso algum não herde a vocação paterna.

Preparam o garoto desde cedo. Deixam as portas das negociatas entreabertas para que o som das conversas vazem e o garoto possa se familiarizar com o futuro que lhe aguarda. Ensinam o "jogo do poder" e suas malandragens. Ensinam a arte do blefe e das dissimulações. E por último, ensinam a lealdade total e a importância da continuidade do ciclo do poder em família.

Em Cabo Frio, Alair Correia entra para história, talvez como o primeiro prefeito a ter plena autonomia, "de verdade", entres os poderes executivo e legislativo. Por que "de verdade"? Porque não está baseada em lealdade partidária ou em frágeis acordos políticos que são facilmente negociáveis. Alair conseguiu a proeza de ter na presidência da Câmara de vereadores, que tem a atribuição de lhe fiscalizar, o vereador Marcelo Correia. Nada mais, nada menos que seu filho.

Seu vice, o ex-vereador Silas Bento seguiu a mesma fórmula: conseguiu transferir seu legado de votos, em sua grande maioria evangélicos,  para seu filho e vereador, Wanderley Bento. E a exemplo do prefeito, emplacou o jovem vereador em seu primeiro mandato na vice-presidência da Câmara transformando o município de Cabo Frio na primeira monarquia moderna da Região dos Lagos.

Nesse quadro favorável, tudo é favorável. Os vereadores, diante dessa realidade fazem mais do mesmo. Alair encontra uma câmara pronta para dizer amém para qualquer ato seu e com disposição para lhe dar poderes como nunca havia recebido antes. Em recente entrevista, o presidente da Câmara e seu filho, Marcelo Correia, foi questionado se nesse mandato haveria alguma oposição ao prefeito Alair Correia, seu pai. O vereador sem titubear respondeu: - nãooo! Na câmara não temos oposição alguma.

Essa distorção e esse retrocesso político que se instala em Cabo frio, é fruto da rejeição ao modelo anterior aplicado pelo ex-prefeito Marquinhos Mendes, e  que acabou por ressuscitar um político que tinha elementos suficientes para uma aposentadoria. O grau de repúdio era tão intenso, que o eleitor cabofriense aceitou fazer qualquer coisa. Inclusive voltar ao século XV.

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