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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

As Moscas do Poder


É preciso ter humildade e reconhecer que, ao completar dezessete anos no dia 12 de Novembro de 2012, Búzios caminha agora para assumir as responsabilidades de uma jovem adulta.





Por José Carlos Alcântara


A adolescência é a fase do desenvolvimento que marca a transição entre a infância e a idade adulta. Essa fase caracteriza-se por alterações em diversos níveis: físico, mental e social, representada pelo distanciamento das formas de comportamento e privilégios típicos da infância e a aquisição de características e competências, que capacitam um indivíduo a assumir os deveres e papéis sociais de um adulto. Todos aqui se lembram, da alegria incomum com que a população de Búzios recebeu a notícia da sua emancipação. Dezessete anos após, aquela euforia deu lugar a toda essa perplexidade com que os moradores daqui observam o atual rito de passagem para a idade do amadurecimento político da cidade. Essa constatação nos remete aos versos da canção Like a Rolling Stone, de Bob Dylan: "Agora você não fala tão alto, agora você não parece tão orgulhosa, tendo que vasculhar pela sua próxima refeição". 

É preciso ter humildade e reconhecer que, ao completar dezessete anos no dia 12 de Novembro de 2012, Búzios caminha agora para assumir as responsabilidades de uma jovem adulta. Seus habitantes escolheram seu prefeito e seus vereadores, como os futuros tutores desta adolescente rebelde, que teima em se comportar como uma jovem mimada e perdulária, precocemente envelhecida. É preciso livrá-la com urgência dos vícios e maus costumes adquiridos e torná-la numa mulher bonita e elegante, que possa viver com dignidade, evitando deixá-la 'cair na vida'.


"Para garantir uma vida fácil no legislativo, prefeitos entregam para partidos políticos cargos no governo. Com isso, secretarias passam a funcionar para atender a lógica dos partidos, para gerar caixa de campanha, para enriquecer políticos."


O texto a seguir, nos traz um alerta sobre problemas enfrentados por muitas das suas irmãs, que já se degradaram a um tal nível, que tornou-se praticamente impossível recuperá-las socialmente. Ainda há tempo de preservar esta princesa da peste que contamina a maioria de suas parentes próximas. Leiam com atenção e reflitam sobre as consequências de uma situação que poderíamos evitar:

"Em tempos de eleições municipais, fica evidente uma das principais vias por onde a corrupção acontece no Brasil, que é a entrega de secretarias municipais para políticos ao invés de técnicos. Para garantir uma vida fácil no legislativo, prefeitos entregam para partidos políticos cargos no governo. Com isso, secretarias passam a funcionar para atender a lógica dos partidos, para gerar caixa de campanha, para enriquecer políticos. Tal prática explica muito bem os motivos de termos serviços públicos ruins e um legislativo tão dócil e subserviente. Isso vem associado a outra prática igualmente nefasta, a entrega de cargos do governo, os famosos cargos de confiança, para apoiadores políticos ou indicados por vereadores. A tendência é que tais posições sejam ocupadas não por profissionais qualificados, mas por cabos eleitorais, em geral, gente que não teve sucesso em outras carreiras, não teve instrução adequada e não consegue emprego semelhante no mercado competitivo.


"O problema é que quando os fracassados são empregados nos municípios, eles levam para o governo a própria incompetência. É necessário profissionalizar a administração pública brasileira."


Via de regra, cargos de confiança são preenchidos por pessoas sem a qualificação para ocupar a posição que ocupam e sem as condições técnicas necessárias. É muito comum um vereador ter um amigo ou até mesmo um filho com dificuldades para arrumar emprego e 'encostá-lo' em prefeituras. Isso é uma prática corrente na imensa maioria das cidades brasileiras em época de eleição. Há um medo de perder a 'boquinha', pois essas pessoas sabem que terão muita dificuldade de conseguir vagas no mercado de trabalho sem os apadrinhamentos políticos, e fazem de tudo para agradar o candidato do grupo do poder. Nos grupos da oposição, a história também se repete. Com a vontade de conseguir um 'carguinho', muitas pessoas que participam ativamente da campanha política, defendem candidatos com unhas e dentes, para ver, se o candidato for vitorioso, se vão conseguir um emprego.

Trata-se das moscas do poder. A situação das moscas do poder é triste, pois são pessoas que fracassaram profissionalmente. O problema é que quando os fracassados são empregados nos municípios, eles levam para o governo a própria incompetência. É necessário profissionalizar a administração pública brasileira. É preciso que se reduzam ao máximo os cargos de confiança nas prefeituras. Precisamos cobrar de nossos governantes uma seriedade no trato com a coisa pública e temos que desconfiar daqueles que defendem um candidato em troca de um emprego."  

Publicado no Brasil 247, por Rafael Alcadipani , professor adjunto da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas                                               

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